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Resenha: Apenas um garoto, de Bill Konigsberg

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Olá, pessoas coloridas!

Como muitos de vocês provavelmente devem saber, o dia de hoje marca a celebração internacional do Orgulho LGBTQ+. E o Silêncio Contagiante, como um blog que abraça toda a diversidade, acredita que o mundo precisa de mais arco-íris para melhorar a boniteza da humanidade. Por isso, em nome dos membros do Staff, gostaria de desejar um Dia de Orgulho estupendo, com direito a mais festas e menos tiroteios, mais casamentos e menos bancada conservadora, mais aceitação e menos armários fechados.

Datas como essa não devem ser consideradas apenas um luxo das minorias, ou prerrogativa de nazismo reverso, mas precisam, sobretudo, lembrar da luta pela igualdade, do apreço pelo amor em todas suas formas, e da predileção por um mundo irrequieto com o preconceito e que não mais tolerará a vergonha do verdadeiro eu. Em outras palavras, este dia simboliza, ao mesmo tempo, a vitória e a arma contra o ódio, contra a segregação social, e contra os atentados às vidas daqueles que anseiam pelos mesmos direitos para todas as pessoas de bem.

E, para aproveitar o clima de comemoração web afora, nada melhor do que postar hoje a resenha de um livro que vai ser lançado em 11 de julho em terras brasileiras, pela Arqueiro, e que, diga-se de passagem, tem tudo para ser um sucesso com as gays tupiniquins. Trata-se do “Apenas um Garoto”, escrito pelo excelente Bill Konigsberg.

Apenas um garoto

Então, eu terminei de ler o livro recentemente pela segunda vez. Meus sentimentos variaram, isso eu posso assegurar. Gostei pra caramba da história e estou disposto a ler outros trabalhos do autor. É claro que houve coisas pelas quais não morri de amores, mas acredito que o todo foi realmente incrível e eu pude apreciar bastante a leitura.

Sem perder mais tempo, o plot conta a história de Rafe, um adolescente rotulado que está meio cansado de ser conhecido apenas como o “garoto gay”, cuja mãe é presidente da Pais, Famílias e Amigos de Lésbicas e Gays (PFLAG, na sigla em inglês) e é uma pessoa totalmente louca — no bom sentido. Seu pai é maluco também, mas a família no geral é um pouco utópica — pelo menos em termos de aceitação. Seria o sonho de todo habitante de Nárnia ter pais que aceitam os filhos como são, acima de tudo e antes de qualquer coisa.

Mas tem um porém: Rafe está cheio de todo o universo gay do qual ele faz parte em sua cidade natal, então, ele decide atravessar o país para ir estudar num internato só para garotos. Quando ele chega lá, não conta para ninguém sobre sua orientação sexual. E pronto! Isso é tudo o que é preciso para as pessoas fazerem ruir as barreiras entre um gay e um “””””cara normal””””” (muitas aspas, porque né!, somos todos hiperbólicos aqui).

Pouco tempo depois, ele já está jogando no time de futebol, praticando outros esportes, e frequentando o grupo dos atletas. É óbvio que muitos dos seus novos amigos não sabem usar o cérebro apropriadamente, mas ele adora do fato de não ser mais o garoto gay. Pela primeira vez na sua vida desde que saiu do armário aos 13 anos, Rafe enxerga a possibilidade de ser algo além do adolescente homossexual.

Eu entendo ele. Sério. Sendo gay, eu não posso fingir que nunca pensei em como minha vida seria se eu fosse hétero. Antigamente, pensava que as coisas seriam mais fáceis. Tipo fazer coisas “normais”. Depois eu caí da cama e acordei. Muitas das preocupações de Rafe são, direta ou indiretamente, em maior ou menor escala, provenientes de uma construção social que as maiorias foram impondo às minorias com o passar do tempo, e que, se a gente parar para pensar, não fazem o menor sentido, a não ser para incitar aversão e ódio no mundo.

Penso que a intenção do autor era mostrar como a inversão de papeis se desenrolaria numa trama desse tipo. Em alguns pontos, a história fica confusa, como em cenas não tão precisas, mas mesmo nessas partes sinto que poderia ter dado certo. Quer dizer, em nível de intenções do protagonista, acho que Rafe poderia ter conseguido se dar bem, mas apenas se tivesse feito certas escolhas diferente. Lá pela metade do livro, você percebe que nada vai acabar bem. Apenas porque, para fazer ruir a barreira de rótulos, Rafe acabou construindo ao mesmo tempo um nova barreira de pequenas mentiras para reforçar a mentira original: that he liked to suck dicks, u_u.

Apesar do fato de que os planos dele funcionam muito bem por algum tempo, fica claro que ele estava apenas substituindo um problema por outro. E pior: um problema que poderia acabar ferindo pessoas. E adivinhem! Shit happens…

Não surpreendentemente, Rafe se apaixona por suposto cara hétero (who never?). Seu colega de time. O caso é que Ben — o moço de quem estou falando — é diferente da maioria dos garotos na idade deles. Não que ele seja gay, ou bi, ou indeciso. Ele apenas vê as pessoas pelo que elas são, e não pelo que outras pessoas pensam a respeito delas. Logo, ambos se prendem em um nível de amizade tão alto que ela começa a ser confundida com amor. E, claro, tem ainda a atração sexual.

Um hétero flertando com um gay? Já vi isso acontecer — muitas vezes. Homens héteros frequentemente fazem isso, se querem saber, mas no caso do Ben, ele estava agindo naturalmente. Ele não estava flertando com o Rafe porque gostava de inflar o ego com um jogo de sedução. Com o passar do tempo, Ben REALMENTE se apaixona pelo Rafe.

Mas não se esqueçam: Rafe está se afogando num oceano de mentiras. E isso é tudo o que precisa para ferrar com as coisas. Konigsberg escreve de um jeito que faz a gente sentir como se estivesse na pele do Rafe. Então, em determinado momento, é possível ficar com a consciência pesada sobre as enrascadas nas quais o protagonista se mete. Senti como se Rafe fizesse todas as merdas e eu era o culpado por elas. Sacam? Isso foi meio esquisito, na verdade, mas de um jeito legal — como se o livro permitisse entrada de livre acesso ao universo da história.

Como um bom YA, o livro está cheio de personagens secundários divertidíssimos, com personalidades próprias, e que poderiam facilmente ter um livro solo. A construção da história foi bem-feita, portanto, é de qualidade. Trata-se de um bromance contemporâneo, e aborda um dos maiores tabus do nosso cotidiano, que é se apaixonar por um hétero e pensar que podemos mudar as pessoas a nosso bel-prazer.

No entanto, muito embora os coadjuvantes sejam legais à beça, é de fato o protagonista que faz a história valer a pena. Com um humor afiado, sarcasmo à flor da pele e inteligência na medida certa, Rafe consegue passar veracidade naquilo que deixa transparecer. Estar na cabeça dele significa se identificar com várias coisas, simpatizar com as ideias malucas, e torcer quando elas são postas em prática. Além da própria homossexualidade, o livro discute outros temas relevantes, como amizade, bullying, aceitação, mentira, e consequências de atos.

Particularmente, penso que um dos maiores trunfos do livro foi expor de forma simples como as pessoas podem acabar criando um efeito dominó assim que passam a tentar resolver problemas criando outros. Seria o equivalente a tampar o sol com uma peneira. Mas, por outro lado, a leitura vale como um exemplo de “aprenda com os meus erros, e não faça merda”. Mesmo com uma realidade um pouco distante da nossa, os sentimentos são os mesmos, as situações podem se aplicar, e o que fazemos a seguir determina nosso caráter diante das adversidades. Nasce-se gay, mas ser babaca é uma escolha.

O melhor de tudo para mim foi o final. Apropriado é melhor palavra para definir o desfecho da história. Não teve nenhuma reviravolta mirabolante, nem milagres de conversão. Apenas sensatez para finalizar tudo o que se passou no tempo em que nos divertimos na companhia da turma que dá vida ao livro. No geral, “Apenas um Garoto” é uma história bacana que vale a pena ser lida, e não fica devendo em nenhum quesito para ser considerada de qualidade.

O livro está em pré-venda nas principais livrarias e sites, portanto, se eu fosse você, adquiriria logo o meu exemplar. É, inclusive, um orgulho perceber que a cada dia as editoras brasileiras fazem questão de aumentar os títulos com temática LGBTQ+ nas prateleiras do país. Tem gostinho de vitória, sabe. Estamos vencendo, gente, vencendo

Bem, isso é tudo por hoje.

Espero que tenham gostado. Vou ficando por aqui.

Feliz Dia do Orgulho!

Mais amor, menos guerra…

Porque é aquele ditado: quem nasceu pra ser conservadora, jamais será diva.

Né nom?

Vlaxio.

7 comentários em “Resenha: Apenas um garoto, de Bill Konigsberg”

  1. Amei!!!! Se me perguntarem de novo’qual o melhor post do seu blog na sua opinião’ eu vou ter que falar dessa resenha! Ensinamentos pra vida ❤ Fora que o livro é muito bom por si só.
    Feliz Dia do Orgulho ❤💛💚💙💜

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