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#ChristmasWeek – O Natal de Poirot, de Agatha Christie

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Meu caro James,

Você sempre foi um dos meus leitores mais fiéis e gentis, por isso senti-me seriamente incomodada quando você me fez uma crítica.
Você reclamou de meus assassinatos, que estavam se tornando muito refinados – anêmicos, na realidade. Você ansiava por um “bom assassinato, violento, com bastante sangue”. Um que não deixasse dúvidas sobre ser um assassinato!
Então, esta é sua história especial – escrita para você. Espero que o agrade.
Com carinho de sua cunhada,

Agatha.

O livro já começa arrasando logo na dedicatória, assim de cara. Considerada Queen of Crime, Christie é nada menos que a romancista mais bem sucedida de toda a história – o que, pra mim, é muito justo. Seus livros, somados, passaram a marca cavalar de 2 bilhões de exemplares vendidos no mundo inteiro, e suas histórias, na humilde opinião deste que vos fala, são atemporais.

livro

Quando Tashiro me perguntou qual livro eu gostaria de resenhar na #ChristmasWeek, fiquei um bom tempo considerando minhas opções. E acabei fazendo a escolha mais fácil, um romancezinho noir do qual eu tinha certeza de que gostaria. O Natal de Poirot sempre me encarou da minha fila de leitura, e, nesse natal, resolvi abocanhá-lo sem dó nem piedade.

Ler Agatha Christie é ficar na zona de conforto, devo admitir. Isso porque não há como não gostar dos livros dela. A escrita dessa Lady do Mistério é peculiar no sentido mais perspicaz da palavra. Ela não perde tempo com floreios desnecessários, e geralmente vai direto ao ponto – o que permite uma fluidez notável na dinâmica da leitura, e a torna inconfundível. Sem frescura! Para quem já leu algo da autora, fica muito fácil reconhecê-la, mesmo se estiver embrenhada com outros livros.

Mas, apesar dos outros títulos extraordinários, esse em particular conseguiu se sobressair para mim. Existem alguns itens que fazem a gente gostar dessa história mais do que os triviais contos de natal. Primeiro de tudo: Inglaterra do século XIX, minha gente. Vamos combinar, né! Um lugar fétido, coberto de névoa, e a alta sociedade londrina com aquela característica só dela: ódio passivo-agressivo pelo próximo. Falem o que quiserem, mas eu adoro esses tipos de cenário.

A trama é dividida em partes, intercaladas nos dias antes e depois do natal. Como esperado, o romance tem vários personagens, e todos possuem personalidades distintas e importantes para o desenrolar do plot. Os pontos de vista – narrados sob o cabresto das muitas personas – complementam-se unicamente: muitas pessoas, em diferentes momentos, discorrem sobre um mesmo evento, e possibilitam ao leitor criar sua própria opinião sobre o que quer que esteja acontecendo.

O miolo da história – ou a sinopse, se preferirem –, gira em torno dos Lee, uma família abastada, que mora numa mansão nos interiores de Londres. O patriarca, Simeon Lee, é um velho inválido, podre de rico, que maltrata todos os familiares, e resolve fazer uma festa de natal para reunir todo mundo com o pretexto de rever seus filhos e confraternizar com eles e suas esposas.

Mas tem um “porém”. Sempre tem, né?

Todos os filhos e suas esposas – muito embora sejam crescidos e donos de suas próprias vidas – ainda são dependentes financeiramente de seu pai. Pasmem vocês, eles ganham até mesada. Isso, é claro, sempre foi muito comum na época vitoriana, mas, mesmo assim…

O velho é dono de uma fortuna que deixa seus filhos bastante desejosos. Ficou rico na África do Sul – fazendo alguns negócios de forma não tão legal aos olhos da lei –, trabalhando com diamantes (alguns dos quais guarda em seu cofre pessoal, porque, né…). Ele é um excêntrico, mulherengo, e teve muita culpa na morte da esposa (que definhou por anos numa cama, enquanto ele filhadaputeava com mulheres de classes baixas, infestando o planeta de bastardinhos), e não sentia arrependimento algum.

Os membros da família colecionam desavenças (quem nunca?), e quando todos se reúnem essas intermitências afetivas são relembradas, criando um clima bem pesado na convivência deles. O velho Lee obviamente não é flor que se cheire, e por isso nem se sente culpado ao ser o pivô da contenda entre seus hóspedes – a bem da verdade, isso até o diverte bastante.

Novamente, ler um romance de Agatha Christie numa semana como essa é como brincar de Detetive na manhã de natal, depois de abrir os presentes com os amigos. Esse livro, então, nem se fala! Assim como prometido em sua dedicatória, Christie oferece ao leitor um assassinato claro, sem chances para dúvida, ou qualquer refinamento que nos faça cogitar outras possibilidades, tais como um acidente ou um suicídio. É uma morte seca, inglória, e suja. Do melhor tipo!

Ao contrário do que costumam pensar as pessoas, o natal é uma época propícia para um crime tanto quanto qualquer outra. Não existe esse negócio de “paz e boa vontade aos homens de bem”. No fim das contas, somos tão passíveis de um assassínio no dia 25 de dezembro quanto nos outros 364 dias do ano. Ou estou errado?

O crime executado nesse livro, propriamente dito, acontece às vésperas do natal, justamente quando os nervos dos membros da família estão à flor da pele por causa de um pronunciamento de Simeon Lee sobre um dos filhos. É só então que somos apresentados ao detetive Hercule Poirot (pronuncia-se “erquill puarrô”, tá, meu bem, porque Silêncio Contagiante também é cultura, u_u), que é chamado para servir de consultor na solução do caso.

Poirot era para Agatha Christie a mesma coisa que Sherlock Holmes era para Sir Arthur Conan Doyle: um personagem recorrente, que investigava crimes cometidos pelos personagens de seus romances, utilizando métodos pouco ortodoxos, e que tinham uma capacidade dedutiva impecável. Poirot, assim como Holmes, é irrequieto, desconfiado, e muito dissimulado quando encontra um suspeito em potencial.

A partir desse momento no livro, a investigação começa. Quem é o assassino? Qual o motivo de ter matado? Como aconteceu? Houve resistência? Qual a arma do crime? Tais perguntas preenchem a imaginação de qualquer um, e, de imediato, todos os personagens – incluindo os serviçais, of course! – passam a ser suspeitos.

Me recuso a falar mais, pois descobrir o assassino é, obviamente, a parte mais legal de se ler um romance de Agatha Christie. É uma leitura leve, apesar de colocarmos nosso cérebro para funcionar. Perfeito para o climão festivo de hoje, e para aproveitar as férias de fim de ano. Tenho certeza de que vocês não vão se arrepender.

Isso é tudo dessa vez.

Aproveitando a venda de peixe, quero deixar registrados aqui meus votos de felicidades a todos vocês na festa de mais tarde. Espero de verdade que a gente possa curtir o natal no melhor estilo de amizade e confraternização, e que os assassinatos brutais fiquem aos encargos somente da literatura, eheheh…

Um abraço a todos e boas festas.
Vlaxio.

4 comentários em “#ChristmasWeek – O Natal de Poirot, de Agatha Christie”

  1. Sério! Subiu um arrepio com essa entrada… Foi uma reação do tipo WTF!!

    Eu comecei a curti Romances Policiais esse ano, mas na minha embrenhada para conhecê-los, depararei-me com Agatha Christie…

    Não que ela seja alguma novidade! Você enche meus ouvidos ao falar dessa mulher… Mas finalmente acho que posso tentar ler algo dela.

    Sobre assassinatos sangrentos, estou precisando realmente de um livro assim. Quero me lambuzar em sangue literário, rir das mortes e apreciar um bom modus operandi.

    Estou me sentindo sanguinária hoje.

    E para algo o blog está aproveitando o Francês!!

    Bjs e Feliz Natal!!

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    1. Sanguinária, só hoje? Aham, sei…
      Mas, sério, se você tá pensando em ler Agatha Christie pela primeira vez, esse é um livro formidável para começar. Depois que tiver um gostinho da Rainha do Crime, cê vai entender porque existe tanto hype em torno dela… E, então, vai se tornar fã de carteirinha.
      O francês, bem…, ele está se pagando mesmo, haha, muito embora o Hercule Poirot seja sueco e tal, o nome dele é afrancesado…
      Que bom que gostou do texto.
      Feliz natal !!

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